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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Minha porta para um mundo de possibilidades




E o tom depreciativo que jorrava a cada palavra que era cuspida sem nenhuma cautela por aquelas pessoas de semblante apático me intrigava. Eram, de certa forma, comuns e insignificantes para mim, mas eu sentia uma compaixão por aqueles seres e suas histórias simples.
Ao longe o sol despontava com seu amarelo alaranjado e o brilho que ao mesmo tempo me cegava, me levava a pensamentos surreais, ou quase impossíveis. Chego a imaginar o mundo num momento de fúria contra seus hospedeiros, girando rapidamente, numa tentativa de expulsar e até mesmo tentar aniquilar toda essa população incapacitada de viver, que apenas sobrevive.
Aquele clima gelado da manhã de sábado podia ser sentido nas pontas dos meus dedos, que seguram desajeitadamente uma cédula suja e algumas moedas. O caminho será longo e acomodo-me na poltrona do canto, as vozes diminuindo o tom; Tento ler, logo desisto pois meus olhos ardem e a cabeça começa a doer, revelando-se uma das causadoras de minha irritabilidade.
Percebo o esmalte vermelho se desprendendo de minhas unhas e tenho preguiça de tirá-lo de vez, ao invés disso fico fazendo pequenos corações nas áreas que consigo, com um pequeno prego tirado de uma parede azul escolar. Encontro em um dos bolsos da mochila os restos do biscoito comprado no dia anterior, " a nossa primeira ida ao mercado" e o observo, saboreando alguns nesse ínterim.
As vezes parece que as placas tectônicas estão em constante choque, mas em compensação, se distanciam em seguida, abrindo pequenas brechas por onde sai o magma quente e que rapidamente se solidifica, aumentando nossa ilha. Nossa ilha. Que cresce como um pequeno ser humano, passando por inúmeras transformações e diversos outros seres interferindo sobre sí. Esses seres no caso são dois, apenas. Toda a ilha baseada em apenas dois seres frágeis.
"As duas coisas tornaram-se inextrincavelmente ligadas, uma alimentando a outra como dois elementos num experimento alquímico(...)"
Essa sensação de sintonia é esmagadora. Nos fitamos como dois amantes trágicos no alto de um penhasco. Cada partícula de matéria em mim e à minha volta vibra de significado. Agora tudo está mergulhado nessa tempestade de energia, que nos liga.
Cada vez mais o absorvo para mim, de maneira egoista. Admiro-me disso. Objetos que passariam despercebidos agora guardados em uma caixinha. Lembranças. Seria pedir demais se pudéssemos nos trancar e dizer ao mundo que morremos? Peço.
A sutill química do gosto, do cheiro, da pele da boca na minha. Diante do turbilhão de pensamentos soltos, surge algo como "nada teria valor, sozinha."
Seguimos jovens de respiração ofegante, rindo um do outro de maneira despreocupada, em direção ao último dia de nossas vidas (só enquanto o outro dia ainda não começa).
É como se tivesse o imaginado o tempo todo. Minha mais prazerosa fantasia. "Sustento a fantasia assim como a fantasia me sustenta(...)"

Um comentário:

Gabriel. disse...

que lindo *-* senti uma forte empatia, velho <3 parabéns.

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