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domingo, 28 de março de 2010

Formigas subiam pela pedra


Está se afogando. Sente cada vez menos oxigênio passando por seus pulmões, cenas já vividas vão se passando como um filme. Sorri e afunda cada vez mais.
A Luz ofuscante de um peixe que brilha mais do que a lua em sua direção. Sem fôlego não consegue desviar, é consumida por essa luz extremamente brilhante, abre os olhos. Sente, ama, fecha os olhos novamente.
O frio que antes lhe arrepiava os pelos, transformara-se em calor, numa sensação boa de proteção. Uma sombra contornando a areia numa linha reta, perfeita, sem nenhum traço fora do lugar. Concha deformada pelas ondas, que tentam destruir castelos na areia, sonhos e brincadeiras de uma criança qualquer. Não se cansa, luta ferozmente para salvar seu pedaçinho de terra seca.

Abre os olhos mais uma vez e ele se vai, um beijo rápido de despedida e ela não pode dizer-lhe nada, se foi.

Caminho rápido, não tem mais apoio no vazio ao seu lado, ela que antes se aninhava e sorria inconscientemente (...)Vazio.

Fotos e pensamentos, uma folha amarelada de caderno que lê ao deitar-se, sozinha e fria, cabelo desgrenhado, unhas feitas, poucas peças de roupa e janela aberta, olhando a noite de céu alaranjado. Venta pouco lá fora, as folhas da árvore permanecem quase imóveis, somente algumas se atrevem a balançar, num movimento não acompanhado por seus olhos.

Nem um dia se passou desde que se viram, essa eternidade que surge dentro dela já faz parte de sua nova vida, acostuma-se com todas as coisas novas, sensações, sorrisos, palavras, abraços e a ausência quase insuportável dele, o seu apoio, o seu toque, o seu calor (...)

E faço o tempo esperar como esperei ...

terça-feira, 23 de março de 2010

Me pegue pela mão, vamos enterrar nossos problemas na praia.

Noites estéreis e um nó simples, pequeno, mas mesmo que se desfaça, ficará marcado, uma curva impenetrável, inatingível e que não serás mais a mesma curva de antes, flexível e cheia de falhas, dobras mal feitas.

Num lugar qualquer de ruas desertas, ele corre para abraçá-la, ela vira o rosto e retribui. Sua felicidade instantânea, seu sorriso, seu fechar de olhos, seu (...) mais um manhã de sol no rosto, lençol no chão, braços vazios e coração apertado. Levanta e pela casa silenciosa e senta-se a observar o simples balançar das arvores lá fora, não vê nada.

Campainhas soam mais alto do que o real, barulhos atrapalham a escrita, concentração não existe mais. Perguntas que faz a si mesma, não tem coragem de entregar-se. Esconde de tudo e de todos, por fim não consegue resistir e desabafa coisas sem sentido, sem coerência.

Rabisca, sorri, fala com objetos, assiste a TV quase muda com medo do silêncio se repetir, corta camisetas e se arruma, desarruma, espera na sacada. Já se passaram seis minutos. Brilho nos olhos, ela corre pra abraçá-lo e tem vontade de sair por aí, sem dar explicações, sem parar pra respirar, sem formigas subindo pelas mãos, sem telefonemas fora de hora.

Praça escura com pessoas estranhas a conversar, desligar-se dos sons da rua é uma tarefa bem fácil, agradável de se fazer. Na outra extremidade, jovens conversam, tragando seus cigarros. Vontade do cheiro, sentir de perto e negar encostá-lo nos lábios, aquela mistura com a hortelã que ela não esquece.

As pessoas foram se dissipando, assim como aquela velha maneira de ver as coisas, ficaram esquecidas, abominadas, e com isso, outras surgiram. As músicas favoritas também (...) os desenhos, todos amassados e jogados num canto.

Como coisa natural, o princípio foi assustador, agora as coisas ocorrem mais naturalmente ainda, vai deixando levar, se aproximando. Dias embaçados vão clareando, o coração fica mais leve, tranqüilo. O paraíso tem que ser eterno, necessita.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nas mais secretas camadas do ser

Por tempos já não mais sabia o valor das palavras, não sentia o entusiasmo de uma criança, não dormia noites mal dormidas, não pensava em não pensar. Tentei me entreter com a leitura, com a música, amigos e Deus, mas sempre tinha um vão querendo ser preenchido, por mais que eu o forçasse a fechar. Tentativas em vão. Não liga não, as pessoas são assim mesmo, hora fazem bem, ora fazem mal, um dia tu aprende a conviver com isso, eu aprendi. Palavras são só palavras. Aprendi isso também. Mas depois de cicatrizes bem curadas, coração fatigado e pouco ar que sobrou, aprendi outra coisa. A confiar, a deixar-se levar e não querer sequer entender. Podes vir de maneira impetuosa, sem medos nem cautela, te levo pra ver as estrelas, te ajudo a contá-las, recontá-las e, por fim, tu deitas no meu colo e eu não te solto nunca mais. Teu abraço esmagador tem magnitudes incríveis, talvez por isso eu não saiba exatamente onde me encontro agora, me sinto perdida, levada pelo teu olhar e teus beijos, numa imensidão jamais vista nem sentida, onde o ar é puro, a brisa que faz balançar meus cabelos é tão suave quanto teu corpo. Acordo sem saber se foi só mais um sonho ou a força da vontade, do querer desesperado e imensurável de agir, de dizer algo a mais antes de ires embora. Em linha reta eu tento te seguir, teu olhar inigualável, corpo quente e as mãos na minha, acabo por vagar mais uma vez, como se tivesse longe, a metros de distância te observando sem dizer nada, te olhar basta. Não precisa correr, você tem muito tempo pela frente menina, calma que é assim mesmo, calma. Repete essas cenas junto comigo? Prometo que permitirei uma bagunçada de cabelo da próxima vez, um caminhar mais calmo, uma sombra pra gente sentar sem pressa de ir embora. Na chuva tu me esquentas, não sinto mais frio do teu lado, teu sorriso me alimenta e tuas palavras me refugiam. Fico a esperar mais uma palavra tua, algo que eu quero dizer e não consigo, mas que espero com mais vontade ainda ouvir de ti. Escrevo de tudo, mas em tudo tu me vens à cabeça, me persegue, dilata minhas pupilas, acelera meus batimentos e me causa insônia. Teus efeitos colaterais(...)