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sábado, 23 de julho de 2011

Naufrágio de final de semana



Pois veja bem, meu caro. De uma forma demasiadamente insuportável estou sendo obrigada a ficar sem você, sair sem você e, ao chegar, não ter você pra me acolher. Portanto, por favor, me deseje uma boa noite antes de dormir, diz pra mim que me ama e não encurte tuas frases, elas tem o poder de machucar com uma só sílaba. E, antes que eu me esqueça, volte logo, mas volte bem, preciso de você inteiro, isso de ter picadinho não alimenta, não supre.


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos. Clarice L
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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Devíamos nos ver hoje

Amanhã talvez chova, não vejo problemas em me molhar, mas ainda acho q devíamos nos ver hoje... e amanhã, e depois, e no dilúvio, e no fogo, devíamos nos queimar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Rema


-Me diz, até quando olharemos no espelho e veremos esses mesmos olhos sofridos e inchados, o corpo refletindo a solidão e a mão vazia?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sucinto


“Acho que não precisava ser assim. É tudo tão forte, tão profundo, tão bonito, não precisava doer como dói. Eu não podia apenas sorrir quando me lembrasse de você? Mas acontece tipo assim: lembro do seu rosto, do seu abraço, do seu cheiro, do seu olhar, do seu beijo e começo a sorrir, é assim mesmo, automático, como se tivesse uma parte do meu cérebro que me fizesse por um instante a pessoa mais feliz do mundo, mas que só você, de algum modo, fosse capaz de ativar. Eu sei, é lindo. Mas logo em seguida, quando penso em quão longe você está sinto-me despedaçar por inteiro. Sabe a sensação de arrancar um doce de uma criança? Pois é, sou essa criança. E dói. Uma dor cujo único remédio é a sua presença. Então sigo assim, penso em você, sorrio, sofro e rezo, peço pra Deus cuidar da gente, amenizar essa dor e trazer logo a minha cura." Caio F.