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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Metamorfoses vividas


“Aliás, já não existe ele ou ela, nem antes nem depois ou norte e sul, mas somente a mistura de dois exilados em um continente desconhecido. A labareda de duas solidões que se agarram uma à outra – num outro planeta, sob um outro céu, numa casinha (...)”

O tempo, esse labirinto desconhecido, revelara de vez suas artimanhas. Nunca bem compreendido, passava ora rápido demais, ora muito lentamente entre ela, sonhadora nata, perdida em suas próprias maldições. Pensava em como Dulcinéia era deveras sortuda, tinha para si um seguidor fiel, capaz de lutar contra todos os exércitos para chegar a seu encontro, talvez não fosse o mais bonito, forte e bem de vida, mas tais detalhes nunca lhe atraíram, portanto isso não importava diante todo aquele amor.
Ainda tinha dentro de si algo lhe apontando a direção a seguir, já sem pressa nem expectativas exorbitantes, afirma para todos aqueles que sorriem dizendo “vai dar tudo certo, vou conseguir isso, aquilo.”:
- Cuidado para não ser derrubado por falsas expectativas, não as crie sem que tenha total certeza, a pior coisa é quando não acontece algo que tanto desejamos.
E essa afirmação tão plausível em sua boca não era a mesma contida em sua mente, voraz bicho-carpinteiro que a consumia sem pausas, negando-lhe a possibilidade de mínimas indagações sobre assuntos que a remoíam de noite, horário em que suas dúvidas, desesperos e medos vinham à tona para tirar-lhe todo o sono.
Diante tanta gente, um mundo próspero e fácil de tocar, fora cair nas teias de seu mais poderoso inimigo, ainda que cobiçado cautelosamente, e mais uma vez a afirmação que servia para as pessoas não foi cabível a ela, menina suburbana, frágil internamente, externamente também, que alçara seu mais alto vôo, quando já havia perdido quase todas suas penas e não possuía sequer coragem para caminhar. Entregara-se em dias, horas, mensagens virtuais, seu coração explodia a cada esperança de encontrá-lo em breve, prendia a respiração ao imaginar a voz, o toque, o calor que se juntaria ao seu.
O calor fora alcançado, o coração de vez amarrado a um só galho, um só ramo. O ato de inspirar e expirar tornara-se mais agradável e suave, todas as vibrações do cosmo são sentidas e interpretadas por seu corpo em uma única golfada de ar, quando olha, de maneira sutil, para o lado e vê o corpo moreno que se junta ao seu, com amor, sem pressa, sem tempo e sem medo.